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Traficante que largou a vida de crime em Londres para se juntar ao do EI

 Condenado   nesta semana como integrante do grupo estremista autodeclarado Estado Islâmico (EI), Aines Davis é parte de uma tendência preocupante de criminosos comuns europeus que se tornam jihadistas violentos.

Antes, Davis vendia drogas e andava armado pelo bairro de Hammersmith, no oeste de Londres. Ele chegou a ser condenado diversas vezes por sua atuação como traficante até ser condenado, em 2006, por porte ilegal de armas. A prisão ocorreu em uma operação na qual a polícia desbaratou uma gangue que fornecia centenas de armas para criminosos.

Na prisão, teria se convertido ao islamismo e adotado o nome de Hamza em uma suposta tentativa de deixar para trás a vida de crime que levava. Mas na versão extremista do Islã que adotou, manteve a fé nas armas. E acabou acusado de crimes ainda mais brutais.

Ao mesmo tempo, ele continuou a ser influenciado por pessoas que conheceu no tráfico, como contou sua mulher, Amal El-Wahabi, em 2014, quando foi julgada e condenada a 28 anos de prisão por ajudar a financiar as atividades extremistas do marido – ela enganara um amigo para que levasse milhares de euros para Davis na Turquia um ano antes.

Davis também se destaca por seu aparente elo com o extremista Mohammed Emwazi, conhecido mundialmente como "John Jihadista", o homem que decapitou diversos reféns ocidentais. Eles se conheceram anos atrás em uma mesquita no oeste de Londres.

Davis e Emwazi fizeram parte de um grupo de muçulmanos radicalizados que viviam na capital britânica. A partir de 2012, foram para front da violência que se espalhava pela Síria e pelo Iraque. Uma vez lá, tornaram-se membros do Estado Islâmico.

Com outros dois amigos do Reino Unido, Alexanda Kotey e El Shafee Elsheikh, eles supostamente ficaram a cargo de vigiar os reféns. Seriam chamados de "Os Beatles", por causa do sotaque britânico.

Davis negou que fizesse parte do Estado Islâmico, dizendo à Justiça britânica que as histórias sobre sua atuação como extremista eram falsas. Também negou ser o chefe da unidade responsável pelos reféns: "Não sou do EI. Fui para a Síria porque há opressão no meu país".

‘Ódio profundo’
Um dos ocidentais que sobreviveu ao cativeiro descreveu à BBC como, nos quartos do porão de uma grande casa no norte da cidade de Aleppo, na Síria, o grupo de amigos de Londres perpetrava atos de violência estarrecedores contra pessoas mantidas ali, entre elas jornalistas e membros de organizações de ajuda humanitária.

Nos seis meses em que ficou no local, o jornalista espanhol Javier Espinosa vestiu um macacão laranja e foi chamado de Prisioneiro 43. As condições ali foram comparadas com às da polêmica prisão americana na Baía de Guantânamo, em Cuba.

Ele viveu um pesadelo de simulações de execuções e afogamentos, além de outras técnicas de tortura. Falando à BBC, Espinosa disse que "Os Beatles" eram um "grupo de bandidos sem qualquer noção do que é religião". Eles usavam sua fé "para justificar todo tipo de crime que cometiam".

"Se estupravam, chamavam isso de casamento. Se roubavam, falavam que estavam confiscando." Espinosa diz que o guarda a quem chamavam de "George" falava com frequência: "Vocês não sabem o quanto eu odeio vocês", se referindo aos ocidentais como um todo. "Ele odiava profundamente o Ocidente."

Seis dos 27 reféns mantidos pelos "Beatles" foram decapitados, incluindo os britânicos Alan Henning e David Haines, em uma sequência de violência coreografada para chocar o mundo.

Em novembro de 2015, Davis estava sendo monitorado quando atravessou a fronteira entre a Síria e a Turquia para ir a uma reunião em Istambul.

A polícia o seguiu até um condomínio de luxo na costa da cidade de Silivri, onde ele foi preso junto com outros homens, entre eles três britânicos: Deniz Solak, de 33 anos, Jermaine Burke, de 29 anos, e Mohammed Karwani, de 40 anos – todos negaram ser membros do EI.

Solak foi absolvido por uma corte de Silivri. Os casos contra Karwani e Burke foram arquivados, e os dois serão agora deportados para o Reino Unido. "Não há terroristas na minha família", disse Sayed Jan, pai de Karwani, à BBC. "Somos contra o Daesh (Estado Islâmico)."

Ele afirma que seu filho foi trabalhar na Turquia como professor e acrescentou que ele tinha outro filho que ficou ferido em uma explosão no Afeganistão enquanto trabalhava como tradutor para o Exército americano.

Já Davis foi acusado de ser membro sênior do EI, e o monitoramento de mensagens codificadas indicam que ele pretendia se encontrar com um homem suspeito de planejar um ataque extremista na Turquia. Davis nega.

A Justiça turca considerou que ele fazia parte de uma organização terrorista e o condenou a sete anos e meio de prisão. Agora, o criminoso londrino que se transformou em extremista internacional está de volta atrás das grades, desta vez na Turquia.

Quem são os outros "Beatles"?
Mohammed Emwazi

Emwazi, conhecido como "John Jihadista", apereceu em diversos vídeos do EI em que reféns eram decapitados. Em novembro de 2015, dias após a prisão de Davis, ele foi morto em um ataque por drones americanos.

O então premiê britânico David Cameron disse que o Reino Unido e os Estados Unidos trabalhariam sem descanso para encontrar o "assassino bárbaro que representava uma séria e contínua ameaça".

Kotey, de 33 anos, foi identificado como um dos integrantes do grupo pelo Departamento de Estado americano, segundo o qual ele "provavelmente participou das execuções promovidas pelo grupo e colocou em prática métodos cruéis de tortura, inclusive eletrocutando e simulando o afogamento" de reféns.

Ele também seria um recrutador do EI, "responsável por fazer com que diversos britânicos se unissem à organização terrorista". Kotey estaria ainda na Síria, em um território controlado pelo grupo extremista.

El Shafee Elsheikh

El Shafee Elsheikh, filho de refugiados que trocaram o Sudão pelo Reino Unido, foi para a Síria em 2012 – acredita-se que ele ainda esteja no país, no território controlado pelo EI.

O Departamento de Estado americano afirma que ele "tem uma reputação de torturador". Seu pai, Rashid Elsheikh, disse à BBC não ter qualquer evidência de que seu filho tenha feito parte de "Os Beatles".

"Gostaria de repetir que condeno qualquer violência contra o ser humano seja qual for o motivo. Meu filho e qualquer outro deve ser responsabilizado por seus atos."

Terra.com.br

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